A Venezuela tem sofrido terrores à mão de Nicolás Maduro, que além de ter sido motorista e ter chegado a Presidente da Venezuela — o que não seria qualquer problema se soubesse ser Presidente — , é desumano e danificou a economia e sociedade venezuelana. Neste momento mantém-se como Presidente, embora anti-democraticamente, e anula pela força e com o (ainda) o apoio do exército todos que não estejam ao seu lado. Tendo o seu partido perdido as eleições para a Assembleia, fez tábua rasa disso, criou uma Assembleia paralela, fantasiou umas eleições em Maio e tomou agora posse em mais um mandato como Presidente. A cerimónia foi quase sem apoio de relevo a nível externo e até interno, excepto dos que com isso poderão a ter alguns proveitos. Que o Presidente da Assembleia, democraticamente eleita, esteja contra toda esta situação e tenha apoios populares, é mais que compreensível. Que queira tomar o poder “por assalto” dado que a democracia já estar a falhar na Venezuela há demasiado tempo, acaba por também compreensível.
Tudo isto em países da América do Sul são, infelizmente, problemas comuns. Lembremos-nos do Chile nos anos 1970 com Pinochet, da extrema-direita. Este, pela forças das armas e com a conivência dos EUA em tempos de Guerra-Fria, derrubou o democraticamente eleito Salvador Allende. Claro que há muitas diferenças entre Salvador Allende — uma pessoa integra e com práticas sérias de governação — e Nicolás Maduro, que não tem essas qualidades. Vende o petróleo e o “povo” venezuelano para se manter no poder. Mas este precedente do apoio dos EUA não é muito tranquilizador. Agora na Venezuela, mal Juan Guaidó se proclamou Presidente interino, teve o apoio dos EUA (Donald Trump) e do Brasil (Jair Bolsonaro), o que é algo estranho. Apesar de tudo, será de esperar, com todo o empenho, que desta vez Nicolás Maduro caia mesmo e não volte — nunca mais — à Venezuela. Será também necessário dar um pouco de tempo para perceber o que se irá passar a seguir, de que lado estará o exército venezuelano e a maioria da população. Será também de esperar para saber se o apoio de Trump e Bolsonaro é algo de positivo para os venezuelanos e para a América do Sul, ou se estará a surgir mais um esquema para a Venezuela voltar a um passado que, embora por outras razões, seria também muito problemático.
© Augusto Küttner de Magalhães, 24/01/2019