Macron geriu mal a contestação e a desordem em França

 

Pena, num tempo em que a Europa tanto necessita de união e unidade, em que apesar de vários contratempos Angela Merkel se vai aguentando — e espera-se, com algumas dúvidas, até ao fim do mandato como chanceler —, o presidente francês se esteja a fartar de “dar tiros nos pés”. Ter deixado a escalada dos “coletes amarelos” tomar as proporções que tomou, sem se saber ainda muito bem quem é a cabeça do polvo, e depois correr atrás da confusão — e recuar em tudo o que fez —, é má política. Se o anterior presidente,  François Holland já foi um desastre, “um erro de casting” desde o primeiro dia, Emmanuel Macron, entrou bem, mas começou a escorregar e a não saber/querer comunicar com a população francesa, e a continuar assim vai ter de se preparar para sair, e muito mal. Claro que ainda é novo e pode ter uma “reincarnação” daqui a uns anos, ou já nem isso. Mas este deixar em lume brando toda a revolta dos “coletes amarelos” e, com estes em plena luta, ceder em toda a linha é desastroso.

Além de, uma vez mais, a França não cumprir as metas do défice orçamental impostas pela União Europeia, tudo o que Macron decidiu em cima do “fogo” são achas para se queimar a si mesmo. Podemos assumir que, quem assim actua, que se queime, assim o escolheu. Todavia, neste momento, está a anular a importância  que a França deveria ter, quer com a Alemanha, quer com outros países europeus (entre os quais nos devemos incluir),  de fortalecer a Europa. Assim,  sem conseguir governar a casa, ao fazer cedências onde nunca devia ter feito em situação tão calamitosa  — sentiu-se encurralado e em vez de ir à luta recuou até quase cair —, enfraqueceu a participação francesa num projecto europeu já muito tremido. Foi dar de bandeja mais poder à extrema-direita de Marine Le Pen, e a mais extremistas que por todo o lado vagueiam,  aumentando a sua força política e o espaço de manobra. Ou seja, pode ter que ceder em toda a linha e cair de vez, ou parar de ceder, e cair na mesma, por ter entrado em desnorte absoluto. Nem os franceses mereciam ter dois, se calhar três presidentes consecutivos que não deram conta do recado, nem a Europa merecia ter um parceiro que não sabe e não se consegue unir, nem dentro, nem fora de fronteiras.

 

© Augusto Küttner de Magalhães, 12/12/2018

 

 

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