
Nestes tempos em que além da Covid-19, que nos ataca e para o qual estamos demasiado desprotegidos, estamos a perceber que o lugar da Europa no Mundo, infelizmente, já não existe (pelo menos da maneira que estávamos habituados). Praticamente acabou como actor a nível global. Deixámos de ser a centralidade, deixámo-la fugir paulatinamente para os lados. Hoje, estamos praticamente reduzidos a meros expectadores do que os outros fazem e decidem. Já não contamos, já não temos influência na ordem ou desordem mundial. Deixámo-nos chegar ao que somos! E é tão penoso, quando, ainda, se gosta tanto da Europa. Quase tudo se joga entre a China e os EUA, entre a Ásia — que é mais do que a China — e América — aí fundamentalmente contam os EUA — e nós, europeus, ficamos a observar os acontecimentos!
Esperando que este gravíssimo problema da Covid-19 se resolva nos próximos três meses. E, depois de contar as perdas de vidas humanas, os sobreviventes, e tudo o mais, a Europa terá um grande desafio à sobrevivência, como espaço europeu integrado, ou ficará uma manta-de-retalhos, de cidades-estado, voltando a um tempo feudal! O maior problema será provavelmente a Itália. Ou a União Europeia se une apoia fortemente a Itália, que vai sair destroçada desta crise, ou a arrisca a desunir-se de vez. Se for assim, o Reino Unido terá aí a “prova” de que fez muito bem em ter-se visto livre do “clube europeu”. E nesta altura não parece que a Europa tenha gente capaz a a manter bem unida e liderar. Mas o Reino Unido também poderá arrepender-se, e muito, por não ter ficado, se as coisas correrem de outra forma na União Europeia e mal nas ilhas britânicas. Apesar de tudo, mesmo que a Europa já não seja o centro do mundo, mesmo que muito se passe mais pelo Pacífico do que pelo Atlântico, poderemos ter ainda aqui o nosso espaço com alguma autonomia, qualidade de vida e futuro. Se não for assim, estaremos reduzidos à história, ao passado, e estaremos cada vez mais frágeis e dependentes de outros.
© Augusto Küttner de Magalhães, 25/03/2020