O Presidente russo visitou a Áustria em 05 de Junho de 2018, e encontrou-se com o Presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, e com o chanceler, Sebastian Kurz, garantindo, ainda antes da visita, que a Rússia não está a tentar dividir a União Europeia. Acrescentou, numa entrevista à estação de televisão austríaca ORF, que pretendia uma UE “unida e próspera”, salientando que esta é o parceiro comercial e económico mais importante da Rússia. Contudo, são justamente as clivagens na política europeia que dão oportunidade a uma — para já única — recepção a Vladimir Putin num país da Europa Ocidental, num momento muito conturbado nas relações com Moscovo.
Vladimir Putin tem apoiantes na coligação que governa a Áustria — um Governo da direita tradicional conservadora com a direita populista / extrema-direita —, que tem adoptado uma postura muito dura em relação à imigração, estando em choque com Bruxelas, e até o chefe do Partido da Liberdade (da direita populista / extrema-direita), Heinz-Christian Strache, já pediu que as sanções à Rússia fossem suspensas. A Áustria ressente-se de ter perdido a importância que teve na Guerra-Fria (como um local onde o Leste e o Ocidente se encontravam), e do passado imperial anterior à I Guerra Mundial, onde dominava o Centro e Leste europeu. Assim, usa estas visitas como a oportunidade para voltar a assumir o posicionamento que já teve no pós-II Guerra Mundial, quando a Áustria negociou a retirada militar soviética do país, a troco de uma posição de neutralidade face aos dois blocos.
Hoje os tempos são diferentes apesar de se multipliquem as comparações com a Guerra-Fria por causa das más relações entre a NATO e a Rússia. Temos aqui é mais um exemplo de (des)União Europeia. Quando um país — quem isto, aqui escreve sente-se à vontade para o fazer por ser meio austríaco — com um Governo de direita populista / extrema-direita dentro da União (!), tal como agora a Itália a juntar-se à Hungria e à Polónia, se permite isoladamente tomar medidas de aproximação à Rússia. Tudo isto feito sem reacção de Bruxelas ou de Berlim, ou até de Paris. Assim a União Europeia continua a “oferecer” argumentos a Trump, de um lado, e a Putin, do outro, para nos fazer reduzir a algo sem importância, significado e representatividade, num tempo e mundo global!
© Augusto Küttner de Magalhães, 9/06/2018