
Continua-se — e em permanência — a dar demasiada atenção e espaço público a Donald Trump e Jair Bolsonaro, pelo que dizem, desdizem, como falam, quando falam, até a população americana e brasileira se manifestarem contra e a favor. Mas nenhum deles tomou o poder de “assalto”. Ambos foram democraticamente eleitos pelas respectivas populações com o intuito de colocar alguém no poder que diz a verdade, que não está feito com os políticos corruptos do costume, que vai salvar o país. Isto foi o discurso que fez eleger os dois e quem disto se espantar anda muito distraído, ou não quer compreender o que de facto tem à sua frente. Dois políticos com muito vozearia, muito ataque a tudo e todos que estavam no poder, que prometeram sem minimamente dizerem como iriam fazer melhor e como iriam compor tudo o que outros estragaram. Seriam os mais honestos dos honestos e fariam a limpeza da podridão instalada. Tanto nos EUA como no Brasil, ambos têm imensos apreciadores e muitos prováveis (re)eleitores. Nós, fora de ambos os países, estamos tão atentos, tão preocupados com o que cada um deles faz, o que deveria soar-nos a bizarro, no mínimo. Além de nada adiantar, é uma forma de distracção face a outros assuntos bem mais importantes e que nos tocam directamente.
Quando esta pandemia do Covid-19 terminar por certo a economia, a sociedade e política não serão iguais. Será a ocasião de fazer balanços do que aconteceu neste tempo de estagnação-interrupção e de mortes. E aí provavelmente iremos acusar os que estavam no poder dentro de cada país, e iremos querer encontrar vias alternativas para fazer melhor. O campo poderá então ficar aberto aos seguidores de Trump, de Bolsonaro e a outros, à extrema-direita ou extrema-esquerda, que estão à espreita para tomar conta do terreno político. E quando acordarmos mais tarde não teremos a Nação salva, mas poderemos ter a Europa mais estilhaçada do que já está. Uma serie de Cidades-Nações-Estados fechadas sobre si próprios. Mesmo antes da crise da Covid-19, já tínhamos (maus) exemplos para além dos EUA e do Brasil — as “falsas democracias” como a China, Rússia ou a Turquia, com eternos governantes no poder opressores da população. Hoje só nos dizem o que querem que nós saibamos. E quem ousar contrariar a verdade oficial é afastado e reprimido. Os EUA e o Brasil escolheram os presidentes que hoje têm. Esperemos não os vir a imitar em futuras escolhas eleitorais feitas em estado de desespero.
© Augusto Küttner de Magalhães, 30/03/2020