No pós II Guerra Mundial, face à imensa tragédia humana em que o mundo se encontrava, foi um tempo em que o ser humano se uniu a tentar evitar outro terror idêntico. Ainda estava tudo muito próximo. A presença do que Hitler havia feito, e mandado fazer, com o Nacional-Socialismo (Nazismo), o Holocausto, doía tanto em tantos que a boa vontade de tentar que tal não viesse a repetir-se estava fervilhante. Resultou numa separação dos países “maus” perdedores da II Guerra Mundial e os “bons” vencedores. Criaram-se Instituições para evitar que algo semelhante pudesse voltar a acontecer, desde a ONU àté à NATO, a tentar que os problemas que ainda se viviam se resolvessem sem possíveis novas guerras! Mas, como escreveu Anne Frank no seu diário, o “ser humano não sabe viver em paz, pelo que cria guerras quando tem paz a mais”.
Claro que enquanto a “memória do sofrimento” ainda estava viva e a reconstrução de famílias, de edificações — de tudo tão destruído — foi sendo feita, tudo correu fundamentalmente bem. Com o andar do tempo, com o frenesim de notícias atrás de notícias, quase tudo foi sendo esquecido. As pessoas / sobreviventes do tempo da guerra foram morrendo e com elas as memórias de guerra. E de repente essas Instituições passaram a ficar demasiado pesadas, a albergar tudo e todos, não pelos melhores motivos, e a desviar-se dos ideais iniciais. Foram-se tornando Instituições não só dificílimas de gerir como sem fins definidos, dado que a guerra, a morte, o holocausto ficaram quase esquecidos. Em resultado de tudo isto não se adaptaram aos tempos actuais, sendo hoje quase “pesos mortos”.
Sem manterem uma memória viva dos fundamentos da sua criação, muitos assumiram como “eternamente” adquiridas a paz a democracia, que hoje parecem estar quase em processo de falência! E apareceram, também, na cena mundial “altos” dirigentes como Donald Trump, Vladimir Putin, Recep Tayyip Erdogan, e outros sem nome sonante, na Áustria — que tanto sofreu com o nazismo — na Hungria e noutros Estados, contribuindo para aumentar o desgaste das Instituições internacionais. Hoje põe-se o problema de renovar essas Instituições, adaptando-as ao tempo actual. Mas quem o poderia fazer já não sabe bem para quê e como fazê-lo, dado já não ter a tal memória da guerra, pelo que se deixa continuar o desgaste, esperando que tudo se resolva por si. Tempos modernos difíceis sempre existiram, não é algo de agora. O problema é esquecermos as maldades que nós humanos sabemos tão bem fazer, e que poderemos repetir, para só depois haver vontade de criar novas Instituições e um mundo melhor!
© Augusto Küttner de Magalhães, 21/06/2018