O referendo ao Brexit foi convocado por um primeiro-ministro que, para ter espaço para continuar no poder, precisava de um “sim” pela Europa. Mas o resultado acabou por ser “não” e este abalou nas nuvens da derrota. Como o governo era — e continua a ser — conservador, surgiu uma Primeira-Ministra que até era pela continuidade do Reino Unido na União Europeia, mas que iria ter de obedecer ao resultado do referendo. A empreitada que assumiu voluntariamente seria conduzir o país para ser novamente “soberano”. Sem império e sem apoio dos EUA não iria ser simples. Mas nada como tentar. Começou então uma (muito) difícil negociação com a UE. Quanto a esta última, algumas luzes, caso incomum, permitiram a unidade dos 27 Estados-membros, sendo impostas regras (e custos) imprescindíveis para qualquer país que queira sair da União. Até para não haver tentações de mais abandonos. Logo foram preparadas as consequências da saída do Reino Unido, um parceiro da NATO, desde a primeira hora. Um país que, apesar de tudo, não se imaginaria fora da União Europeia.
No caso do Parlamento Britânico, visto como um exemplo de democracia para o mundo, mostrou-se incapaz de encontrar uma saída política adequada para o Brexit, pelo menos até esta altura. E ao fim de dois anos os britânicos parecem agora querer ficar na União Europeia, num período em que os europeus se foram entendendo entre si, caso raro como já notado. Mas se não sair da União antes das eleições europeias de Maio de 2019, o Reino Unido vai provocar também uma confusão na União. Foram dois anos em longas negociações que parecem ter voltado à estaca zero. E se o Reino Unido não sair nos próximos dois meses as negociações prolongar-se-ão e com elas a indefinição política e instabilidade social e económica. Os restantes Estados-membros vão começar a mostrar os seus desentendimentos. Mas, nada se resolveu em dois anos, quantos mais serão necessários? O Reino Unido ficará sempre com um pé dentro e outro fora. E os restantes 27? O mais certo é a União Europeia fragilizar-se, ainda mais, com a confusão gerada pelos britânicos agora a contagiá-la a partir do seu interior…
© Augusto Küttner de Magalhães, 6/04/2019