
O Dia D, o desembarque na Normandia que fez ganhar a II Guerra Mundial, foi há 75 anos, a 6 de Junho de 1944. Nessa data os Aliados entraram em força pelo Atlântico na Europa e muitos morreram ao chegar, ou tentar chegar, à costa do Norte de França. Se não fossem ingleses e norte-americanos a guerra, por certo, teria tido outro rumo. Hoje, quem tem menos de 45 anos ao ver imagens da época — se tiver tempo para o fazer — e ao ouvir alguns relatos de velhos veteranos, dará importância a esse passado trágico? Será apenas mais um “filme” de guerra a que está a assistir? Será que irá pensar: como foi há tanto tempo já não parece possível ter ocorrido Europa? E a memória de um presidente com a envergadura de Franklin Roosevelt durante a II Guerra Mundial, onde estará nos norte-americanos de hoje?
O terror da guerra na Europa foi mesmo uma realidade e não foi assim há tanto tempo como pode parecer. Ainda há quem esteja vivo e até tenha combatido, ou tenha sido vítima, desse trágico conflito. Há muitas pessoas vivas que sofreram com o tempo da guerra, mesmo que não tenham sido directamente vítimas desta. Desde 1945 vivemos uma longo período de paz na Europa. Conseguiu-se construir uma unidade para chegar a União Europeia, que não pode ser, nem deve ser, uma cópia dos EUA, um país relativamente recente e sem grande história. A Europa é um conjunto de países antigos, nem todos com Estados e fronteiras estáveis como Portugal, mas cada um com muito passado. Uma Europa única, formada por diversos países por vontade própria, não leva à perda das raízes nacionais. Precisamos de mais Europa, com um exército comum, uma política externa, uma moeda e a respectiva política monetária, legislação harmonizada, etc. Não de voltar a criar muros, fronteiras e nacionalismos agressivos, e menos ainda de uma guerra.
Hoje a Europa já não é o centro do mundo. Hoje o mundo divide-se, grosso modo, entre os EUA, a China e também a Rússia, numa competição e rivalidade problemática para os europeus, sobretudo se não se unirem e actuarem em conjunto. Os mais jovens podem não se interessar pelo Dia D. Afinal foi um longínquo dia 6 de Junho em 1944, já faz tanto tempo e actualmente tudo é tão rápido e instantâneo. Sobretudo para os mais novos, o que se passou há um ano provavelmente já foi há muito tempo. Em 1944 foi talvez há uma eternidade. Mas esta é uma memória importante de preservar para as gerações futuras. Importa que estas não se vejam envolvidas em situações idênticas às que originarem aquele Dia D de 1944. Importa, por isso, querer fazer uma Europa pacífica, mas com influência mundial, num tempo global de grandes potências problemáticas para os valores europeus do pós-guerra.
© Augusto Küttner de Magalhães, 6/06/2019