
Se não fosse tratar-se do ainda mais importante país do mundo e de outro país que tem — tinha? — tudo para poder ser um grande Estado a nível mundial, até seria uma espécie de “comédia dos tempos modernos”, tendo como protagonistas Trump e Bolsonaro, numa espécie de anormalidade política tornada “normal”! Muitos americanos e brasileiros apreciam esse estilo, ou não se importam com ele, no mais alto cargo dos dois países. Ambos políticos são egocêntricos, têm interesses próprios e familiares no que fazem, bem como nos lugares que ocupam, mas não se pode negar que foram democraticamente eleitos pelas respectivas populações. Claro que os antecessores de ambos não fizeram o que deviam ter feito, para isto não estar a acontecer. Obama foi o Presidente de que o mundo gostava — não tanto os seus próprios compatriotas —, por ser o primeiro não branco a presidir os EUA, ser simpático e afável com uma família unida (e um cão português…), mas pouco fez nas questões mais importantes (manteve Guantánamo, construiu discretamente parte do muro com o México, etc.). Lula da Silva terá, ou não, praticado actos de corrupção o que envenenou a vida política brasileira, mas não parecem existir tribunais à altura para fazerem um julgamento imparcial. No resto do mundo, a China é alvo críticas por o seu governo comunista não ter comunicado, em devido tempo, a gravidade da Covid-19 (ocultou-a o mais possível) e danificou a sua imagem internacional, apesar da sua propaganda. Tem em simultâneo problemas de autonomias que vão de Hong Kong ao Tibete e mais um caso irritante em Taiwan (só Macau parece adormecida e não ver problemas no autoritarismo da China). Com tudo isto, resta saber se teremos, ou não teremos, uma Europa capaz de se manter firme nos valores da democracia liberal, pois o mundo atlântico que lhe era mais próximo está a ceder a esta nova (a)normalidade e a China não é modelo que se queira.
© Augusto Küttner de Magalhães, 25/05/2020