O Reino Unido e a crise da democracia

Nunca seria de esperar que o Reino Unido — hoje só de nome  — conseguisse na fase pós-imperial dar tantos “tiros nos próprios pés”. A democracia britânica está a desfazer-se arrastando a monarquia e obrigando a Rainha a aceitar o que Boris Johnson  — uma cópia menor  de Donald Trump — de momento, lhe apeteceu fazer. É dramático, para a Europa e até para o mundo ocidental, verificar como os britânicos não conseguiram, não souberam ou não quiseram, lidar com esta fase de deixarem de ser o que já foram: um grande Império. Muitos já passaram por esse trauma e nenhum país terá conseguido lidar bem com isso, caminhar de grande a pequeno, de importante a secundário (não é bem o mesmo que fazer o percurso inverso). A Áustria, ainda hoje se corrói com isso! É uma pena vê-lo agora como um país que se desfaz a cada dia que passa, dado que o Reino Unido foi um marco em tantas fases da vida mundial.  Mas se pensam que estão melhor sozinhos que mal-acompanhados — algo estranho num tempo global —, nunca deviriam ter-se deixado arrastar por um primeiro-ministro egocêntrico como David Cameron, que “atirou para a esquina” a democracia parlamentar ao convocar um referendo que perdeu e depois “fugiu”, deixando o país à beira de um ataque de nervos. Tudo o que possa agora acontecer ao  Reino Unido, serão “remendos” e terão deixado marcas muito negativas de um fim de um tempo importante numa verdadeira democracia e numa ainda monarquia. Por muito mau que para alguns possa ser fazer parte da União Europeia neste tempo global, é difícil de sobreviver “orgulhosamente sós”! Até a Itália deixou cair Salvini e salvou Conte a tempo. O Reino Unido desuniu-se e partiu-se — está no seu pleno direito de o fazer —, mas a União Europa só tem uma “única” via a 31 de Outubro de 2019: deixarmos de contar com os britânicos que não nos querem.

© Augusto Küttner de Magalhães, 6/09/2019

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