Pensar Paris após o 13/N

Speakers' Corner - Augusto Küttner de Magalhães

 

No segundo domingo de Agosto deste ano chegámos a Paris, ao fim da manhã, de voo low-cost, para passar cinco dias. Estava um dia óptimo, quente, alegre, muito sol. Depois de deixarmos os dois tróleis no hotel, fomos a um local próximo, conseguimos duas sanduíches e água e fomos andando em direcção à Torre Eiffel, comemos num banco de jardim, calmante, apesar de já com muitas pessoas por perto. Depois, fomos caminhando até à Torre, passámos por baixo, atravessámos o Sena, era uma multidão de gente, ouvindo-se as mais variadas línguas, ali pouco francês e mais língua de turista. Viam-se bastantes polícias, a pé e de automóvel e à distância dois grupos de dois militares cada. Mas sem temores. Sem medos.

Hoje depois de assassinos à solta erradamente a coberto do Islão, terem morto demasiadas Pessoas e feridos outras, que se divertiam, em zonas de Paris, que não a atrás referida, mas mais frequentadas à  sexta-feira à noite por franceses, Paris, pelo que se pode ver na France 24, e em algumas fotografias de bons jornais nossos, está como não estava em Agosto passado. Está com medo. Não está alegre. Aqui, à frente, uma fotografia do Louvre a da sua pirâmide fechados no domingo seguinte à barbárie. Algo inconcebível há um mês. E pensemos o que todos não fizemos para deixar que “isto” acontecesse. Nada! Não foi por certo andarmos todos armados como os assassínios para assassínios nos tornarmos. Não foi erguermos mais muros ou grades como alguns países europeus fizeram, e continuam a fazer. Não foi deixarmos no nosso canto, tentando que nada nos aconteça. Não foi perdermos demasiado tempo com programas transmitidos até à exaustão em demasiados meios de comunicação social, que nos formatam as ideias e nos tolhem o pensamento.

Foi por certo, não termos todos, por mais insignificantes que sejamos ter pretendido pensar pelas nossas cabeças em liberdade, com responsabilidade. Em fraternidade, com respeito pelo outro. Em igualdade, com tolerância, humildade e não o inverso. E bloqueamo-nos todos sobre nós mesmos, ou sobre o nosso grupo. Fechámo-nos aos outros tal como os outros fazem connosco. Esquecemos de ouvir, antes, estamos sempre a falar. Falamos, falamos e dizemos todos, tão pouco. Ouvimos o nosso eco, e não o que os outros nos querem dizer. Não estamos solidários uns com os outros. Perdemos, até, a nossa de Família, por menos tradicional que esta possa hoje ser. Cultivamos ontem, hoje e porventura amanhã o individualismo, o egocentrismo, o egoísmo. O, eu vale mais que tudo. Todos se adoram, nada alastrados aos outros, mas única e excessivamente a si mesmos, são — somos — adeptos e defensores de narcisismos a mais!

Não acolhemos o outro, com todos os defeitos que tem e que nós também temos. Tentamos bulhar, nem que só com palavras, e nunca o inverso. E deixamos que uns doidos assassinos à solta matem, e gabem-se de o fazer, e voltem em breve em qualquer lado a fazê-lo. Deixamo-nos levar nesta onda das redes sociais, da comunicação sem ser ao vivo e a cores, e com ofensa fácil. Perdemos a noção de direitos, com deveres. E, Paris, hoje tem medo. Paris já não tem uma Torre Eiffel por onde se possa passar, sem ter a ideia que alguém de metralhadora — Kalashnikov ou outra qualquer — possa aparecer. Mas não só Paris, Bruxelas, ou qualquer outra cidade Europeia. Ou até em África. E deixámo-nos envolver neste entorpecimento, que nos faz preocuparmo-nos mais com o secundário que com o essencial. Achamos que a Cultura não tem interesse. Que a Educação também. Instrução são balelas.

Paris no Arco de Triunfo já não triunfa. E nas avenidas de Paris já não se caminha sem medos. Tem-se medo, medo de humanos como nós. E Paris é o exemplo do que por todo o Ocidente está a acontecer. Mas não só no Ocidente. Também no Afeganistão, no Paquistão, em Israel, na Palestina, nos EUA —  onde, contra a vontade de Obama, andar armado é muito fixe e enriquece quem as produz — mata-se por que sim. E não temos o direito —  não dever, direito! —  de respeitar o outro como gostamos de ser respeitados. Não está a “dar”! Mas, ou nos orientamos, todos e rapidamente ou este início de terceira Guerra Mundial vai acabar muito mal. Esperemos ainda saber Pensar, Paris em finais de Novembro de 2015, enquanto é tempo.

 

© Augusto Küttner de Magalhães, 23/11/2015

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