Umas vidas valem mais que outras?

Speakers' Corner - Augusto Küttner de Magalhães

 
No mesmo dia, morrem milhares de inocentes/civis/desconhecidos em Alepo ainda em posse do Daesh, e cai um avião com menos de uma centena de pessoas, a maioria futebolistas. O que é a colossal notícia? O avião! Tudo o que envolveu o avião, desde a queda até às buscas, às causas e ao enterro dos que caíram na queda, enche e preenche noticiários e tudo o mais que com estes se relacionam, ou até hoje, o inverso, as redes sociais que aqueles influenciam. Como é evidente são vidas que se perderem e como todas as outras e só por serem Pessoas que morrem numa situação inesperada merecem todo o nosso respeito. Há mortes esperadas! Mas e em simultâneo tantos velhos, crianças, Mulheres, Homem morrem em Alepo por lhes mandarem em cima com bombas, por os atacarem com mísseis, dos quais não se podem defender nem fugir. E, dá muito menos espaço de antena. As vidas são diferentes? Umas valem mais que as outras?

A profissão/ocupação/localização de uns é mais valiosa e noticiosa que a de outros? Não são tudo e todos Humanos? Claro que não! E é pena, dado que de facto o são, o somos! E somos todos enquanto humanos iguais. Não, não somos! E, deveríamos sê-lo, em direitos e deveres. Em visibilidade, em importância. Mas não somos, não são. Num local morrem, são mortos aos milhares, vai sendo “vulgar”, quase como se “tivesse que ser”, em outro, nem a uma centena, não podia ter acontecido. Nenhuma das situações podia ter acontecido, mas ambas aconteceram e o “acolhimento” em todos os aspectos foi diferente é diferente. Neste momento a Guerra — agora mesmo — mata milhares se não for em Alepo é em Mossul, milhares de civis, inocentes à Guerra, mas é vulgar, tem que ser.

E um dia uma fotografia de uma criança morta às margens do Mediterrâneo consternasse o Mundo inteiro, mas não é só essa a morte que aconteceu, nesse mesmo momento. Milhares de crianças, velhos, homens e mulheres o mesmo acontece e acontece, ao tempo que estas linhas se estão a escrever. E tem que ser.  A produção de armamentos e munições dá muito dinheiro. Algumas mortes, pela morte, são muito normais. A Guerra sempre o foi e será uma mortandade. Mas o tratamento visionado, público e publicado de umas mortes é tão diferente de outras. E escondemo-nos a essa realidade e deixamo-nos entreter com outras, desde que não nos batam à porta, ou não seja as que “estão a ter que se melhor ver”! Sabe-nos melhor, chorar um avião com menos de uma centena futebolistas, do que milhares de mortos por uma guerra sem fim à vista. Somos assim, e assim continuaremos todos nós a ser!

 

© Augusto Küttner de Magalhães, 5/12/2016

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