A tomada de posição chinesa na EDP e as infraestruturas críticas

Edp

 

A compra de parte do capital da EDP pela empresa estatal chinesa “Three Georges” foi objeto de polémica na sociedade portuguesa. Todavia, a questão tem sido essencialmente discutida do ponto de vista das vantagens ou desvantagens económicas e do retorno financeiro para o Estado português. Aqui coloco a questão sob um outro prisma, que é o das infraestruturas críticas – um tema central na abordagem da cibersegurança.

Hoje, a produção de energia elétrica e as redes de distribuição da mesma, a par das telecomunicações, dos transportes, dos serviços de saúde, dos serviços financeiros, etc., são consideradas uma infra-estrutura crítica do Estado, em termos de estratégia de cibersegurança. Ainda no âmbito do pensamento estratégico e de segurança, é também largamente consensual a ideia de que os próximos conflitos internacionais terão uma novo teatro de operações no ciberespaço. Este inclui as referidas infraestrutras críticas, as quais estão, cada vez mais, dependentes de sistemas de informação para o seu funcionamento. A interrogação óbvia é aqui a de saber se a China – e, importa recordar, a “Three Georges” é uma empresa do Estado chinês – não será um parceiro problemático sobre este prisma.

Em qualquer hipótetico, mas plausível, cenário de conflitualidade futura, Portugal e a China estarão, com grande probabilidade, em lados diferentes do conflito. Basta pensar que eventuais tensões entre os EUA e a China, por exemplo, devido à questão de Taiwan ou outro ponto de atrito, Portugal estará, por vontade ou arrastamento derivado dos próprios compromissos na NATO, do lado dos EUA. Podemos imaginar a vulnerabilidade que sentiremos nessa altura, pelo fato de estarmos numa coligação oposta à China e dependente desta num setor crítico para o normal funcionamento do país. Seria bom que se pensasse nestas coisas antes delas poderem acontecer.

 

© José Pedro Teixeira Fernandes, 11/01/2012. Última revisão 5/06/2015